Gratidão...
Incontáveis foram as vezes que eu errei. Incontáveis são as que eu ainda pretendo errar. Infiel, má, perversa, incoerente, inerte, preguiçosa, cruel. Nada de bom há em minha natureza que mereça ser poupado em troca de que Cristo viva em mim. Ao longo de minha curta vida, muitos foram os tropeços. Muitas foram as quedas. E tantas vezes eu desisti de Deus. Desisti de acreditar que Ele me ouvia ou que em mínimo se interessava pela minha vida. Estava tudo tão difícil há tantos anos, que servir não era prazer ou propósito. Servir era servidão escravagista. Me sentia impelida, obrigada, incumbida a fazer qualquer que fosse a coisa “em nome de Deus”. Mas um Deus que eu não conhecia sequer de ouvir. Por mais que eu lhe desferisse palavras, não conhecia o caminho para me achegar a Ele e cultivar um princípio mais íntimo de relação Criador-criatura. Pobre me sentia. Pobre era, pobre estava.
Infiel, má, perversa. E, em extremo, cheguei a ser incrédula. Tamanha a pobreza do meu conhecimento desse Ser Supremo que me era tão desconhecido, descri. Descri não porque não queria mais crer, mas por total ignorância de sua real existência. Eu estava com 19. Já havia lido o manual (Bíblia), fazia todos os rituais que as comunidades de religiosos me ensinaram (evangelismo, oferta, dízimo, jejum, oração, ministério…). Eu era sim uma perfeita religiosa que seguia algo que eu não sabia, mas preferia achar que se tratava de Deus. Todas as minha ações eram voltadas para agradar a esse Ser Supremo que me ensinaram sobre Ele. Mas eu não o conhecia. E não me sentia correspondida em nada por tantas libações ofertadas, então descri. Fui atéia. Deus não existia mais para mim.
E no descrer, Ele não desistiu de mim. Então, achei também que poderia desistir dos meus sonhos e viver a vida em perpétua nulidade. E na nulidade, Ele não desistiu de mim. Também me acomodei e passei a ir aos cultos celebrados nas comunidades de religiosos para dentro do meu coração zombar da ilusão daquele povo, como poderiam ser tão cegos pelo ópio que lhes afagava a incompletude? E na zombaria, Ele não desistiu de mim.
Quando descri, muitos vieram até mim. Enviados de diferentes formas, chegaram por caminhos distintos. De que adiantou, se eu não os ouvi? Tomada por um esclarecimento racionalista, eu estava além disso. Estava claramente além de crer por fé numa existência sobrenatural superior a mim e a todo o Universo. Então, Ele não desistiu de mim. De desferir palavras, passei a desferir agressões. Gritei, me irei. Duvidei que Ele ouviria. Ele ouviu e não desistiu de mim.
E foi porque Ele não desistiu de mim, que ainda estou aqui. Ele me derrubou ao chão, lembro como se fosse hoje. Enquanto eu gritava contra Ele o que eu queria, caí ao chão, imóvel, muda, frágil. Ele falou comigo o que quis. E eu quis esbravejar. Queria continuar minha lista diária de ofensas contra Ele, mas não pude. Todas as vezes que no meu coração eu pensava em palavras para agredi-lo, minha mente era tomada por palavras que o louvavam e o exaltavam e da minha boca essas palavras saíam em uma língua desconhecida. Isso durou horas. Quando pude me levantar, tomei o rumo da minha vida. Na rotina, encontrei com pessoas da minha faculdade, às quais eu quis falar, mas tudo me saía somente nessa língua desconhecida. Pronto. Estava feito. Ele não desistiu de mim e me separou para si.
Foi assim que a história da menina mudou. Tive que entrar em acordo com Deus se quisesse ser novamente dona de minha boca e suas palavras. Tive que admitir que Ele existia. Somente quando as palavras de exaltação e adoração saíram verdadeiramente da minha boca, recitando o Salmo 139, foi que essa pegada de jeito que Ele me deu acabou. Impactou a minha vida. E não desistiu de mim. Ele se lembrou dos sonhos que eu havia desistido e, um por um, começou a cumpri-los e a realizá-los para mim, porque eu passei a me agradar dele. Como nunca antes, eu finalmente conheci aquele que nunca desistiu de mim. Cinco anos de vivência, cinco anos de profunda intimidade, cinco anos de nova vida. Obrigada Paizinho!